terça-feira, 24 de julho de 2012

Coffee Wishes

Ele se perguntava se deveria passar por aquela porta ou não, então parou no vão, de frente pra rua e seu tempo gélido. Escolhera o lugar, pois o cheiro do café era entorpecente e servia para aliviar o cheiro da derrota. Sabia que aconteceria. Talvez se pedisse três cubos de açúcar no lugar de dois, quem sabe o sabor fosse mais doce.
Desde o início planejara aquele momento, desde a primeira vez em que a viu. Imaginava como seria, o que falaria, qual o melhor local. Sabia desde o início que era aquilo que ele queria, desde sempre por todos os anos pelos quais se trancou em si mesmo. Por todos os anos que demorou pra planejar, pra imaginar, pra fugir.
Em todas as situações lá estava ela, a qualquer hora, em qualquer lugar, bastava um telefonema ou nem mesmo isso. E a surpresa o fazia nervoso, constrangido. Nada era certo, tudo uma questão de como ela o guiaria. E lá estava ela, imperfeita em todos os detalhes, e lá estava ele, novamente a imaginar.
Desde o início planejara aquele momento, desde a primeira vez em que a viu. Um telefonema. Um lugar. Um horário. Desde sempre soube que aquilo aconteceria e ali naquele momento parou pra olhar pra trás. Vendo-a confusa, como sempre, mas desta vez com o cardápio, e impaciente ao olhar o relógio bem acabado de madeira na parede, sabia que ela o esperava, e que ele a desejava mais que tudo. Fez preces para que aquele momento fosse extraordinário. Olhou para fora, imaginando o quão baixa estaria a temperatura, voltou-se para vê-la pela última vez. Vestiu seu casaco, abriu a porta e, sem cumprimentos e sem despedidas, saiu para o inverno que o esperava e para a neve que caia, imaginando agora que nunca mais olharia para trás novamente.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

desvanecer.

Com tão pouco tempo de vida, começou a se dissolver. Sentia como se a cada dia, morresse uma parte de si. Como se a cada dia desaparecesse um motivo pra estar ali. Começou a sentir que cada parte do seu ser e seu viver estavam sendo sufocados, berrando para ir embora, para parar, para desaparecer, virar pó, virar nada.
Não que antes fosse alguma coisa, mas o pouco que restara de seu corpo e sua vida não agüentava mais estar ali, não agüentava mais o simples fato de existir. Pois seu existir era inútil, irrelevante e sufocante. Suplicava por saída, por final, por uma parada definitiva.
Escolheu por não tomar uma atitude. Esperaria até o tempo corroer tudo o que fizera e tudo o que lhe restara. Assistiria sua vida ir embora aos poucos sem avisar. Assim como uma pintura abandonada desbotando. Esperaria se dissolver lentamente, e esperaria até sentir seu último prazer se transformar em vazio. Esperaria sua mente e seu corpo sumirem aos poucos. Tudo o que fez e o que deixaria de fazer. O que viveu e o que não vai viver mais. Sentir tudo ao seu redor destruir quem é. Esperaria calmamente o seu final, o desvanecer.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Caminhos Extremos

Todas as músicas tristes, elas me dizem o que eu quero ouvir. Todos os lugares por onde passo me dizem onde quero estar. Tudo o que já senti e guardo comigo me impedem de continuar.
Todas as minhas lamentações e noites em claro me enchem de uma carga que me doem a carregar. Mas eis que não posso parar. Não me esforço para não me ferir. Está aí um caminho extremo que me encanta seguir. Faz parte de tudo o que eu construí.
Caminhos extremos dos quais não quero desviar. Alguns exageros com os quais me divirto, o que eu sonhei e não consegui. Caminhos extremos que me fizeram cair, voar, e me ajudam a não saber o que fazer.
Caminhos extremos que me fazem cantar, cantar a tristeza de não ter mágoas demais. Cantar a tristeza de querer sempre mais uma dor pra lamentar. Caminhos extremos que me fazem perder. Perder o tempo no ar, não poder me levantar. Caminhos extremos deixaram eu me acomodar. Acomodar-me com o “nunca haverei de me tornar”.
Caminhos extremos me fazem sonhar, pra que eu possa me decepcionar. Caminhos extremos me fazem perceber, que eu me tornei tudo aquilo que nunca quis ser, e não quero mudar. Caminhos extremos me prendem ao chão. No chão é onde haverei de ficar. Caminhos extremos me mostram mais caminhos extremos que irão me guiar.
Todas as lembranças, velhas miseráveis, tecem tranqüilas o que me torno a cada dia. As minhas mágoas são minha história, os meus erros são minha memória, acordar nos dias - após são a minha vitória.



quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Vitrine.

Não escrevo bem. Não sei o que é escrever bem. O que escrevo é a exposição dos sentimentos que me rasgam a procura de uma saída. Transformo-me em vitrine, exponho a falsa liberdade do que sinto, uma quase fuga, explosão de luz brilhante, que atrai, embeleza, e exagera. A fuga inexistente.
Transformo minhas tristezas, angústias, e medos em poesias, músicas, prosas, agradáveis de serem lidos. Uma tragédia enfeitada para parecer mais digna, o desastre belamente narrado e cuidadosamente mostrado, faz parecer o que poderia ser.
E de tão fascinada que sou pela beleza, apaixono-me por minhas mais profundas mágoas - mágoas que fiz jorrar mais sangue do que são compostas. E mostrando-me a sua textura, seu vermelho gritante (não pela cor, mas pelo seu desespero), brilhante, adorável, conquisto-me e carrego-me para dentro delas.
Mostro-me o lado belo (questiono-me se realmente existe) da tristeza. Delicio-me com confusões. A tristeza bela é meu alimento.
E ao apaixonar-me pelas lágrimas que me rolam no rosto ao ver um céu estrelado, faço com que sentimentos assim tão bonitos, fiquem guardados como jóias em uma caixa. Onde posso admirá-los, toca-los e segura-los junto a mim eternamente. Ou enquanto durar minha paixão.




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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

E-mails

Foi quando eu abri minha pasta de e-mails, pois ela avisava que duas pessoas haviam me enviado mensagens. Não era um dia muito tranqüilo, nem caloroso, chovia muito. Na esperança de duas mensagens compensarem as 24 horas confusas e frustrantes, eu me senti aliviada: lembraram-se de mim. Como uma pessoa seca de sede em um deserto, vazia de fome depois de dias sem comer, cliquei no link das mensagens para receber o meu consolo. Decepção. Eram apenas duas propagandas de coisas que de nada serviriam pra mim, nem naquele dia, nem nunca em minha vida. Silêncio. Só podia ouvir a maldita chuva que corria e batia na minha janela fechada. Sabe-se lá o que mais acontecia lá fora, não era isso que me importava, o caos que me corroia por dentro era mais intenso e me chamava mais a atenção. Só conseguia olhar pras propagandas e sentir meu coração se contorcer de raiva e decepção. Sentia a chuva pousar em meu rosto, simbolizado pelas lágrimas, a única reação externa que meu corpo poderia produzir. (Ou será que eram as gotas de água da chuva que expressavam o que havia em mim naquele momento?). Tão fria quanto a temperatura lá fora, eu sentia cada parte do meu corpo congelar e endurecer. E não havia nada, ou melhor, ninguém, que me aqueceria naquele momento. Dizem alguns que as pessoas escrevem sob pressão. A minha pressão naquele momento era a solidão e a decepção. O rancor unido com a tristeza que parecia não ter fim, davam um acabamento perfeito à minha melancolia, à minha explosão, violência, destruição, meu grito interno. Naquele momento eu não sabia quem era. Naquele momento eu queria arrasar até mesmo os sentimentos mais belos. Minha lista laranja picante de pessoas com as quais conversava via internet mostrava-me que não importava o número de interessados e interesseiros, falsos ou verdadeiros, eu sempre estaria sozinha. Com minha confusão e meu jeito nem sempre certo de agir. Sem uma ligação ou mensagem, sem palavras que me confortariam, ali paralizada desde o clique nas mensagens de e-mail, resolvi mover alguns dedos e,digitando, por em palavras o que havia dentro de mim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Desavença

Eu sei como ela se sente, porque é o mesmo velho sentimento desgraçado. Se ela não estivesse tão dominada pela raiva que sente por mim, eu a abraçaria e diria que sim, que sei como ela se sente. Se ela me permitisse, eu usaria suas músicas pra falar por mim. Se ela me deixasse, eu mostraria que não é a única. Mostraria a ela meus poemas tristes e a ouviria dizer que eu roubei suas palavras. Saberia que foram palavras tão perfeitamente delas, que, me contando sua historia, eu poderia escrever a minha, usando o mesmo projeto, os mesmo argumentos. E arriscaria sentimentos - que de nada valeriam na minha dissertação. E conversaríamos sobre nossas loucuras, madrugadas sem dormir, cartas não enviadas, vontades não realizadas, e desejos distantes, que nem o quinto dos infernos chegaria perto. Se eu não fosse parte do motivo pelo qual seu conto de fadas fora destruído, aposto que seria sua fada madrinha, ou outro personagem qualquer que a acolheria em minha história. E se eu fundisse a minha e a dela, como a uma série de contos de sonhos tão inenarravelmente despedaçados, nem nos livros mais inocentes e traiçoeiros, iriam nos encontrar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Amar.

Amar é belo. Todo mundo concordaria com isso. Quem ama vê sentimento em tudo. Acha em tudo uma razão (ou não) pra existir.
Eu adoro também. E poderia dizer que sinto prazer em fazer isso. Mesmo se não for recompensado, eu diria que gosto disso. Certo. Eu diria. Mas talvez eu não diga mais.
Quando você se apaixona por alguém, acha tudo muito lindo. Você não quer se importar nem pensar se vai dar certo. Você só quer sentir, porque isso te mantém ali, te mantém vivo, mantém sua vida menos sem graça, te mostra motivos.
Você acha lindo desejar ter alguém ao seu lado, é o sentimento mais belo que alguém pode ter. É o sentimento mais puro, mais inocente e ao mesmo tempo o mais perigoso.
Quando você entende que não pode ter nada em troca, você não quer morrer. Afinal, amar é lindo e é belamente trágico sofrer por amor. É um quadro que se admira mesmo se for dramático, mesmo se for um tema triste. Uma fotografia sobre a crueldade do mundo retratada de um ângulo que mostra algo bonito pra se admirar.
Amor é beleza.
Todo seu sofrimento por alguém impossível parece ser divertido. Você depende disso pra estar bem, é viciante.Você não liga de desejar alguém que nunca vai poder ter, porque você transforma em música. Transforma em filme, transforma em poemas e textos como esse. Sofrer pode ser arte. E você sabe admirar e sentir.
Amor é vício.
Mas depois de um longo tempo admirando esse lindo quadro triste, você começa a cansar. Cansar de ser sempre a mesma coisa. Cansada de sempre cair, porque começa a machucar de verdade. De repente um cortezinho começa a se transformar numa ferida enorme que sangra tanto e você não sabe como fechar. E antes você diria que gostava do seu machucadinho, mas não é tão divertido quando começa a abrir cada vez mais, e você não consegue controlar. E dói. Dói demais.
Todo o lindo drama começa a se tornar uma angústia que te corrói por dentro. Uma melancolia sem fim, que te deixa sem rumo, sem vontade pra mais nada.
Amor é tragédia.
De repente, um dia, você levanta e diz que acabou. Diz que sua vida mudou radicalmente e que aprendeu a ser feliz, aprender a ser livre. Você percebe que está diferente e deseja fazer tudo o que nunca fez quando passava os dias se afundando nas suas lágrimas ridículas. Você conhece pessoas novas, pessoas querem conhecer você. Você resolve se envolver com um aqui, outro ali. Liberdade. Você finalmente pode sorrir novamente e encontrou em você mesma um motivo pra ser feliz.
Engano.
Tudo começa a voltar devagar, e você começa, sem perceber, a fechar a janela novamente e se voltar pro interior da sua casa imunda a bagunçada. Tudo volta a ser dolorido de novo.
Você deseja com todas as forças não sentir mais nada, começa a desejar que esse sentimento acabe o mais rápido possível. A brincadeira antes engraçadinha já passou dos limites e você já cansou. Cada minuto de alegria com seu pedestalzinho se transforma em uma mancha negra minutos depois, porque você sabe que não vai passar disso. Você sabe que tem limites e não pode ultrapassá-los.
Amor é angústia.
A pior situação é quando você está perto de quem você ama. Porque a pessoa tem um campo que você não pode ultrapassar. O desejo incontrolável de contar o que você sente começa a te deixar louco quando você não pode fazer isso. Começa a aumentar mais a vontade de dizer e você sente algo crescendo dentro de você, dominando cada órgão, cada veia, cada célula. Já não adianta mais chorar, nem qualquer outro meio de descontar sua raiva. Você sente que vai explodir.

Eu sinto que vou explodir. E não posso deixar isso sair. Não posso dizer como tudo termina porque não terminou ainda. Eu digo que tudo passa. Ou hoje, ou amanhã, ou depois. Mas passa. Embora às vezes eu duvide que isso seja verdade, é nisso que eu tento acreditar e é isso que me conforta. Toda noite antes de ir dormir eu desejo que o que eu sinto diminua com os dias, mas tem se tornado cada vez mais inevitável. Cada vez mais forte. Eu espero aprender como lidar com isso melhor do que eu estou fazendo.
Se antes era um sentimento divertido, hoje é uma melancolia confusa.
Antes saber que existe amor me dava motivos pra estar aqui. Hoje saber que um dia ele vai acabar é que me faz continuar.