sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Amar.

Amar é belo. Todo mundo concordaria com isso. Quem ama vê sentimento em tudo. Acha em tudo uma razão (ou não) pra existir.
Eu adoro também. E poderia dizer que sinto prazer em fazer isso. Mesmo se não for recompensado, eu diria que gosto disso. Certo. Eu diria. Mas talvez eu não diga mais.
Quando você se apaixona por alguém, acha tudo muito lindo. Você não quer se importar nem pensar se vai dar certo. Você só quer sentir, porque isso te mantém ali, te mantém vivo, mantém sua vida menos sem graça, te mostra motivos.
Você acha lindo desejar ter alguém ao seu lado, é o sentimento mais belo que alguém pode ter. É o sentimento mais puro, mais inocente e ao mesmo tempo o mais perigoso.
Quando você entende que não pode ter nada em troca, você não quer morrer. Afinal, amar é lindo e é belamente trágico sofrer por amor. É um quadro que se admira mesmo se for dramático, mesmo se for um tema triste. Uma fotografia sobre a crueldade do mundo retratada de um ângulo que mostra algo bonito pra se admirar.
Amor é beleza.
Todo seu sofrimento por alguém impossível parece ser divertido. Você depende disso pra estar bem, é viciante.Você não liga de desejar alguém que nunca vai poder ter, porque você transforma em música. Transforma em filme, transforma em poemas e textos como esse. Sofrer pode ser arte. E você sabe admirar e sentir.
Amor é vício.
Mas depois de um longo tempo admirando esse lindo quadro triste, você começa a cansar. Cansar de ser sempre a mesma coisa. Cansada de sempre cair, porque começa a machucar de verdade. De repente um cortezinho começa a se transformar numa ferida enorme que sangra tanto e você não sabe como fechar. E antes você diria que gostava do seu machucadinho, mas não é tão divertido quando começa a abrir cada vez mais, e você não consegue controlar. E dói. Dói demais.
Todo o lindo drama começa a se tornar uma angústia que te corrói por dentro. Uma melancolia sem fim, que te deixa sem rumo, sem vontade pra mais nada.
Amor é tragédia.
De repente, um dia, você levanta e diz que acabou. Diz que sua vida mudou radicalmente e que aprendeu a ser feliz, aprender a ser livre. Você percebe que está diferente e deseja fazer tudo o que nunca fez quando passava os dias se afundando nas suas lágrimas ridículas. Você conhece pessoas novas, pessoas querem conhecer você. Você resolve se envolver com um aqui, outro ali. Liberdade. Você finalmente pode sorrir novamente e encontrou em você mesma um motivo pra ser feliz.
Engano.
Tudo começa a voltar devagar, e você começa, sem perceber, a fechar a janela novamente e se voltar pro interior da sua casa imunda a bagunçada. Tudo volta a ser dolorido de novo.
Você deseja com todas as forças não sentir mais nada, começa a desejar que esse sentimento acabe o mais rápido possível. A brincadeira antes engraçadinha já passou dos limites e você já cansou. Cada minuto de alegria com seu pedestalzinho se transforma em uma mancha negra minutos depois, porque você sabe que não vai passar disso. Você sabe que tem limites e não pode ultrapassá-los.
Amor é angústia.
A pior situação é quando você está perto de quem você ama. Porque a pessoa tem um campo que você não pode ultrapassar. O desejo incontrolável de contar o que você sente começa a te deixar louco quando você não pode fazer isso. Começa a aumentar mais a vontade de dizer e você sente algo crescendo dentro de você, dominando cada órgão, cada veia, cada célula. Já não adianta mais chorar, nem qualquer outro meio de descontar sua raiva. Você sente que vai explodir.

Eu sinto que vou explodir. E não posso deixar isso sair. Não posso dizer como tudo termina porque não terminou ainda. Eu digo que tudo passa. Ou hoje, ou amanhã, ou depois. Mas passa. Embora às vezes eu duvide que isso seja verdade, é nisso que eu tento acreditar e é isso que me conforta. Toda noite antes de ir dormir eu desejo que o que eu sinto diminua com os dias, mas tem se tornado cada vez mais inevitável. Cada vez mais forte. Eu espero aprender como lidar com isso melhor do que eu estou fazendo.
Se antes era um sentimento divertido, hoje é uma melancolia confusa.
Antes saber que existe amor me dava motivos pra estar aqui. Hoje saber que um dia ele vai acabar é que me faz continuar.

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