Ele se perguntava se deveria
passar por aquela porta ou não, então parou no vão, de frente pra rua e seu
tempo gélido. Escolhera o lugar, pois o cheiro do café era entorpecente e
servia para aliviar o cheiro da derrota. Sabia que aconteceria. Talvez se pedisse
três cubos de açúcar no lugar de dois, quem sabe o sabor fosse mais doce.
Desde o início planejara aquele
momento, desde a primeira vez em que a viu. Imaginava como seria, o que
falaria, qual o melhor local. Sabia desde o início que era aquilo que ele
queria, desde sempre por todos os anos pelos quais se trancou em si mesmo. Por
todos os anos que demorou pra planejar, pra imaginar, pra fugir.
Em todas as situações lá estava
ela, a qualquer hora, em qualquer lugar, bastava um telefonema ou nem mesmo isso.
E a surpresa o fazia nervoso, constrangido. Nada era certo, tudo uma questão de
como ela o guiaria. E lá estava ela, imperfeita em todos os detalhes, e lá
estava ele, novamente a imaginar.
Desde o início planejara aquele
momento, desde a primeira vez em que a viu. Um telefonema. Um lugar. Um
horário. Desde sempre soube que aquilo aconteceria e ali naquele momento parou
pra olhar pra trás. Vendo-a confusa, como sempre, mas desta vez com o cardápio,
e impaciente ao olhar o relógio bem acabado de madeira na parede, sabia que ela
o esperava, e que ele a desejava mais que tudo. Fez preces para que aquele
momento fosse extraordinário. Olhou para fora, imaginando o quão baixa estaria
a temperatura, voltou-se para vê-la pela última vez. Vestiu seu casaco, abriu a
porta e, sem cumprimentos e sem despedidas, saiu para o inverno que o esperava e
para a neve que caia, imaginando agora que nunca mais olharia para trás
novamente.
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